“Diferencie entre inimigos e amigos, mantenha a ordem”, anunciam os alto-falantes públicos em Lhasa. Desde que começaram os protestos na capital do Tibet, há uma semana, o governo chinês vem usando de todos os meios para conter a revolução popular comandado pelos monges budistas tibetanos. Todos, menos a diplomacia.
Com uma altitude média de 4.900 metros, o Tibet é a região mais alta do planeta, e por isso é conhecido como o “Teto do Mundo”. A história do país tem origem no séc. 127 a.C., quando uma dinastia militar oriental fixou-se no vale de Yarlung. Após 8 séculos de guerras territoriais, o Imperador Songtsen Gampo, 33º rei tibetano, unificou a civilização feudo-militar em um império pacífico. Seu reinado durou do ano de 617 até 701, deixando um grande legado: nesse período foi criado o alfabeto local e o sistema legal, o budismo foi instituído como religião oficial e importantes templos foram erguidos, como o Ramoche e o Jokhang.
Os sucessores de Gampo continuaram a transformação cultural, e a partir do séc. VII o reino torna-se o centro do Lamaísmo, religião baseada no budismo. Alvo secular da cobiça dos chineses, o Tibet finalmente conquistou sua independência oficial em 1912, após centenas de anos de luta.
Em 1949, após anos de disputas internas, a China se torna uma república comunista e
Mao Tse-tung (foto) é proclamado presidente. No ano seguinte, tropas chinesas invadem o Tibet e anexam o território. A oposição tibetana é derrotada numa revolta armada em 1959. Em conseqüência, Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, líder espiritual e político tibetano,
exila-se no norte da Índia, instalando a base de seu governo em Dharamsala, onde vive até hoje.
São quase 60 anos de exílio. Nesse ínterim, a China manteve seu regime comunista e recentemente tornou-se a maior economia em desenvolvimento do mundo, graças ao trabalho semi-escravo e à indústria pirata. O governo de Mao ficou conhecido como um dos mais sanguinários de toda a história, com milhões de chineses vitimados pela “revolução cultural”. Entre 1987 e 1989 houve tentativas de protestos no Tibet, todas reprimidas c/ violência pelas tropas comunistas chinesas.


Em 1949, após anos de disputas internas, a China se torna uma república comunista e


São quase 60 anos de exílio. Nesse ínterim, a China manteve seu regime comunista e recentemente tornou-se a maior economia em desenvolvimento do mundo, graças ao trabalho semi-escravo e à indústria pirata. O governo de Mao ficou conhecido como um dos mais sanguinários de toda a história, com milhões de chineses vitimados pela “revolução cultural”. Entre 1987 e 1989 houve tentativas de protestos no Tibet, todas reprimidas c/ violência pelas tropas comunistas chinesas.
RAGE AGAINST THE "MÁ CHINA"Como se vê, as raízes da revolta atual são seculares, mas o estopim começou a ser aceso há duas semanas.
No dia 08 de março, o governo chinês suspendeu a emissão de vistos para a região e ordenou a remoção de todos os turistas de Lhasa e das áreas rurais, incluindo a região do Himalaia. C/ a aproximação dos Jogos Olímpicos de Pequim, havia expectativa entre os agentes de turismo de Lhasa de um aumento significativo no fluxo de visitantes.
No dia 15, Hu Jintao, secretário-geral do Partido Comunista da China (PCC), é reeleito presi-dente - em votação fechada, é lógico. No mesmo dia, eclodem as primeiras manifestações em Lhasa, contra os mais de 50 anos de domínio chinês no Tibet. Tudo isso no momento de maior crescimento econômico tibetano – mais de 12% enre 2001 e 2006, ano em que foi inaugurada uma ferrovia unindo Lhasa a Pequim.
“Todo dinheiro
que aflui p/ a região chega por intermédio de empresas chinesas, tudo é controlado por pessoas de fora”, diz Andrew Fischer, economista do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento de Londres. “Nesse contexto, você tem um crescimento rápido, mas a população local é mantida fora disso. Os chineses dominam a maior parte das atividades econômicas. Isso criou uma dupla sociedade, c/ um abismo entre as duas. Há nas cidades chineses e tibetanos que tiram proveito do sistema, que se enriquecem porque são comerciantes ou trabalham nos escritórios. Entretanto, há um proletariado tibetano vítima do desemprego e que trabalha em condições arcaicas.”
Desde o início dos protestos, a China vem agindo como sempre fez: usando a força de suas tropas militares, expulsando jornalistas estrangeiros, permitindo a divulgação apenas de imagens oficiais (onde os monges manifestantes aparecem quebrando lojas, ateando fogo em carros
e confrontando a polícia), estabelecendo ultimatos e acusando a autoridade tibetana de incitar a revolta na população. O Dalai Lama, por sua vez, já afirmou que não almeja uma guerra de independência e mostrou-se aberto ao diálogo durante toda a semana. Mas os políticos chineses simplesmente o ignoram, assim como fazem c/ a opinião pública internacional. “Vimos um grande c
omboio de veículos militares carregando tropas”, disse na quinta-feira o jornalista alemão Georg Blume, correspondente do jornal Die Ziet. “Um comboio tinha aproximadamente 2 km de extensão, c/ cerca de 200 caminhões. Cada um levava 30 soldados, o que significa que há por volta de 6.000 militares em cada comboio.” Centenas de manifestantes – a maioria monges – já morreram nos confrontos, embora os números oficiais chineses noticiem apenas 19 vítimas até agora.
“A situação se tornou muito, muito tensa. O lado tibetano está determinado. O lado chinês está igualmente determinado. Isso significa: mortes e mais sofrimento”, afirmou o Dalai Lama em uma de suas muitas coletivas à imprensa mundial. “O governo chinês não está vendo a realidade. Eles acham que só porque têm armas, têm o controle. Sim, podem controlar. Mas não podem controlar a mente humana. Quanto mais repressão e mais ocupação militar, mais ressentimento.”


“Todo dinheiro




“A situação se tornou muito, muito tensa. O lado tibetano está determinado. O lado chinês está igualmente determinado. Isso significa: mortes e mais sofrimento”, afirmou o Dalai Lama em uma de suas muitas coletivas à imprensa mundial. “O governo chinês não está vendo a realidade. Eles acham que só porque têm armas, têm o controle. Sim, podem controlar. Mas não podem controlar a mente humana. Quanto mais repressão e mais ocupação militar, mais ressentimento.”
O QUE DÁ LÁ É LAMA
“A China, apesar dos ares de modernidade propiciados por seus invejáveis índices de industrialização e crescimento econômico, permanece uma ditadura brutal”,
escreveu a Folha de S.Paulo em seu editorial no último dia 18. “(...) parece que Pequim está evitando um banho de sangue às vésperas dos Jogos Olímpicos (...). A moderação interessada de hoje não torna menos condenável a política de Pequim p/ o Tibete, que vem sendo governado c/ mão-de-ferro desde 1959 (...). Além da violação sistemática dos direitos humanos, as tradições do país vêm sendo desrespeitadas – numa espécie de ‘genocídio cultural’, como diz o líder espiritual.”
“Que o governo chinês admita ou não, esta é a questão:
uma nação c/ um patrimônio cultural antigo está enfrentando sérios problemas”, resume o Dalai, do alto de sua sensatez. Ele apelou às autoridades internacionais que “por favor, investiguem por sua conta, ou se possível c/ alguma organização internacional, qual é a situação no Tibet, e quais são os prejuízos”. Mas as Organizações das Nações Unidas (ONU) pouco ou nada fez até agora p/ solucionar o caso. O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, não está nem aí pros tibetanos: “Nós acreditamos que um boicote não resolve nada. Pelo contrário, penaliza atletas inocentes e impediria a organização de algo que definitivamente vale a pena ocorrer.” É muita grana envolvida nesse negócio (Olimpíadas), e economicamente, a China é um gigante, enquanto o Tibet é um anão. Como se sabe, a corda arrebenta sempre do lado mais fraco.
"É muito difícil que a China (mapa ao lado) permita a independência do Tibete (destacado em vermelho), que representa uma parte significativa de seu território. Por hipótese, isto criaria uma instabilidade muito grande, pois outras regiões, como Taiwan, ficariam motivadas a lutar pelo mesmo", acredita Alexandre Uehara, professor de Relações Internacionais da Faculdade Rio Branco, em São Paulo.
3 MCS E 1 CAUSA
“A China, apesar dos ares de modernidade propiciados por seus invejáveis índices de industrialização e crescimento econômico, permanece uma ditadura brutal”,

“Que o governo chinês admita ou não, esta é a questão:


3 MCS E 1 CAUSA




CORAÇÃO SELVAGEM
No caso tibetano, as perspectivas não são melhores. “Estamos uma batalha de vida ou morte contra mais um dos nossos inimigos”, afirmou Zhang Qingli, secretário do Partido Comunista. Ele ainda chamou o Dalai Lama de “lobo vestido de cordeiro, um monstro c/ face humana e coração de animal selvagem”.
“Não estamos querendo independência ou secessão”,
disse o Dalai Lama, Prêmio Nobel da Paz em 1989, que durante a semana chegou a acenar c/ a possibilidade de abdicar do cargo de líder político do povo do Tibet. “Continuamos comprometidos c/ um processo de diálogo p/ encontrar uma solução mutuamente satisfatória p/ o Tibet, mas p/ isso é necessário o apoio da comunidade internacional p/ que, c/ base no diálgo, se encontre uma boa solução. Estou totalmente comprometido c/ a estabilidade, unidade. Isto é essencial. Mas a estabilidade e a unidade devem vir do coração.” 

“Não estamos querendo independência ou secessão”,


É, Dalai, tremendo bad kharma, hein?